A pandemia da covid-19,
declarada pela Organização Mundial da Saúde em março de 2020, intensificou o
uso de tecnologias digitais no Brasil, passando de 71% dos domicílios com
acesso à internet em 2019 para 83% no ano passado, o que corresponde a 61,8
milhões de domicílios com algum tipo de conexão à rede.
Os dados são da Pesquisa sobre
o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros
(TIC Domicílios) 2020, divulgada hoje (25) pelo Centro Regional de Estudos para
o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de
Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), órgão do Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br).
O coordenador do CGI.br, Márcio Migon, explica que a internet e os dispositivos móveis passaram a desempenhar papel central durante a pandemia, possibilitando a continuidade de atividades empresariais com o home office, do comércio com as vendas online, prestação de serviços públicos, atividades educacionais com o ensino remoto e de saúde com as teleconsultas. Porém, ele destaca que as desigualdades sociais foram agravadas pelas diferenças no acesso à tecnologia.
“As presentes publicações
apresentam um cenário atualizado da adoção da internet no Brasil durante a
pandemia de covid-19 e oferece um diagnóstico detalhado dos desafios para o
avanço da inclusão digital. Ao mesmo tempo, a vida digital permitiu muitas
possibilidades, inclusive abrindo fronteiras para uma parcela da sociedade, por
um lado. Por outro lado, a diferenças e as dificuldades de acesso se mostraram
ainda mais graves, agravando as fraturas sociais e as desigualdades. É preciso
diagnóstico para que possamos implementar políticas públicas que venham ao
encontro de reduzir essas diferenças”.
De acordo com o
diretor-presidente do NIC.br, Demi Getschko, o núcleo detectou o grande aumento
de tráfego na rede, levando São Paulo ao primeiro lugar no mundo.
“Nós passamos pela pandemia
com um grande aumento de tráfego, principalmente nos pontos de troca de tráfego
[PTTs]. A internet brasileira suportou essa demanda adicional, tivemos a boa
informação de que o PTT de São Paulo atingiu o primeiro lugar do mundo,
passando o PTT de Frankfurt, que era o líder. E estamos nos municiando para
continuar atendendo as demandas com a qualidade esperada e esperando que, na
verdade, o cenário seja mais promissor daqui para frente”.
Também foram lançadas hoje a
TIC Educação 2020 e a TIC Kids Online Brasil 2020, além do Estudo Setorial
“Educação e tecnologias digitais: desafios e estratégias para a continuidade da
aprendizagem em tempos de covid-19”. Os principais dados foram apresentados no
evento online Inclusão digital e desafios pós-pandemia, disponível no Youtube.
USO DA INTERNET
O integrante do Cetic.br Fábio
Storino destacou que a migração das atividades de ensino, trabalho, lazer e
serviços públicos para o mundo online se refletiu no aumento da conectividade
nos domicílios no ano passado.
“Esse aumento foi mais
expressivo na classe C, onde em 2015 pouco mais da metade dos domicílios
contavam com internet, passa dos 90% em 2020. Nas classes D e E, em que a
diferença em relação às classes A e B era de 83 pontos percentuais, isso reduz
em 2020 para 36 pontos percentuais, né? Então, mostrando ao mesmo tempo um
cenário de redução das desigualdades, mas ainda em patamares desiguais entre as
classes. Nós também identificamos uma redução das desigualdades entre as
regiões do país, mas esse acesso nos domicílios ele ainda é desigual”.
De acordo com Storino, a pesquisa
mostrou que a presença do computador se tornou uma questão relevante, com
acesso muito desigual. Enquanto o equipamento está presente em 100% dos
domicílios da classe A, ele está em apenas 13% das classes D e E.
Ao todo, 81% da população
brasileira é usuária da internet, mas o acesso às diferentes tecnologias é
muito desigual, segundo a TIC Domicílios. A presença da fibra ótica chegou a
56% das casas em 2020, sendo de 59% nos domicílios urbanos e 29% nos rurais.
Por classe social, a fibra está em 83% da classe A e em 38% das classes D e E.
Já o acesso exclusivamente pelo telefone celular foi de 11% na classe A e
chegou a 90% nas D e E, ficando numa média geral de 58%.
EDUCAÇÃO
A integrante do Cetic.br
Daniela Costa apresentou hoje os dados da TIC Educação. Segundo a pesquisa, os
gestores escolares disseram que enfrentaram diversas dificuldades durante a
pandemia, como a mediação da aprendizagem realizada pelos pais e responsáveis
no domicílio dos estudantes e a carga de trabalho dos professores, que aumentou
com o uso de tecnologias e preparação de aulas remotas.
“Mas um dos principais
desafios enfrentados pelas escolas durante este momento de aulas remotas foi
justamente a falta de dispositivos e de acesso à internet nos domicílios dos
estudantes, que apresentou proporções ainda maiores nas áreas rurais e nas
escolas públicas estaduais e municipais”, explica Costa.
O uso de plataformas para
atividades de ensino e aprendizagem nas escolas urbanas subiu de 22% em 2016
para 66% em 2020 e 82% das escolas brasileiras possuem acesso à internet, sendo
de 98% nas áreas urbanas e de 52% nas rurais. Entre as regiões do país, o
acesso nas escolas varia de 51% no Norte a 98% no Centro-Oeste. “A diferença
também é verificada se a escola está em uma capital ou no interior e se é de
maior ou de menor porte”, detalha a pesquisadora.
Para o pesquisador do Centro
de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais da Fundação
Getulio Vargas (FGV/DGPE) João Marcelo Borges, a pandemia mostrou que o acesso
à internet deixou de ser um bem importante para ser um direito essencial. E as
pesquisas demonstraram que o país está longe de diminuir as desigualdades
sociais.
Fonte: Época Negócios